A peça do Grupo Produtos Notáveis de Caxias do Sul foi um fecho perfeito para a XXII Semana Luiz Antônio, não só pela qualidade do espetáculo, mas porque apresentou o espírito da Semana, ou seja, as encantações e os cruzamentos.Tendo a comédia de Shakespeare, A Megera Domada, como base, o grupo revestiu-o com as máscaras e a mise-en-scene da Commedia Dell’Arte, com figurinos de época e a utilização de bonecas para a representação de uma personagem (Bianca), se isso tudo não bastasse, a peça conta ainda com música ao vivo, efeitos sonoros e uma boa dose de humor.A retomada de um texto clássico inglês, o uso das convenções da Commedia Dell’Arte (com direito a uma simpática homenagem a Arlequino, servidor de dois patrões, de Goldoni, pois o criado não só serve a dois patrões, mas também possui duas máscaras e indumentárias, que troca, deliciosamente, em cena com o auxílio da platéia) e a adaptação para a rua com suas intervenções e contextualizações para os dias de hoje (caso do uso das bonecas para Bianca, a mulher objeto desejada por todos, enquanto Catarina, nada objeto, é temida e rejeitada) representa bem a idéia central da Semana de cruzar as estéticas, as propostas teatrais e buscar um encantamento novo, aproximar do hoje o ontem e revelar a beleza existente no fazer do ator, na arte de interpretar, que independente da escolha estética, é sempre uma entrega.Com irreverência e visão crítica, A Megera Domada, dos “guris” de Caxias do Sul propõe uma releitura de Shakespeare e uma reflexão sobre os papéis sociais e as relações de hoje, uma peça TRI Legal.
Por
Flávia Regina Marquetti
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