Radicci e Genoveva


Apresentação

Com direção e dramaturgia de Dilmar Messias, baseado nos quadrinhos de Carlos Henrique Iotti, o grupo Ueba traz à cena “Radicci e Genoveva em - a vida de casal non é fácil”. A união inédita destes talentos, com a atuação de Jonas Piccoli e Aline Zilli, propõem uma montagem cênica com características marcantes da linguagem cartunista e teatral, ressaltando a regionalização dos personagens imigrantes italianos.

A proposta aborda a relação entre dois tipos de clowns: o branco e o augusto. A distinção é clássica e poderia ser adaptada à vida de qualquer casal em cena: o clown branco é o mandão, o bronco; enquanto o augusto é o mais bobão, o ingênuo. Durante o processo surgiu a identificação de personalidade com as tiras de Iotti e a comédia Del arte, e então Radicci e Genoveva passam a fazer o uso de máscaras, acentos que ressaltam o nariz, para representar os personagens caricatos que variam dos bufões aos palhaços. A peça é composta por cenário, iluminação e figurinos inspirados na linguagem dos quadrinhos, magistralmente organizados em cena pelo diretor do espetáculo Dilmar Messias.

O roteiro apresenta um dia na vida de Radicci e Genoveva, com a presença de todos os jogos de dominação cabíveis, em uma história com tom mais cotidiano e casual, que se passa sem perder a essência da relação já estabelecida entre eles. Além deste aspecto, a montagem preserva o sotacón, que “não é português, não é italiano, não é dialeto, é uma nova língua, é o sotacón. Porco Zio!”, como define Iotti.

Das tirinhas: Radicci e Genoveva

Radicci, segundo seu criador, é “uma espécie de síntese do nosso colono italiano em uma época que ser colono era uma vergonha. É um anti-herói, gordinho, baixinho, careca e peidorreiro, amante do vinho e do ócio, bem diferente do imigrante pintado e cantado pela história oficial. A sua mulher, Genoveva, é a Mamma, figura centralizadora e obstáculo entre o Radicci e um garrafão de vinho. Uma espécie de Pentágono, também sujeita a ataques terroristas do marido”.

O personagem, e sua família, foram criados em 1983, e tem algumas características bem marcantes. Radicci é um italo-brasileiro que conquistou o público com seu temperamento forte, e politicamente incorreto. Com uma roupagem regional, é um personagem universal. Um caipira que faz sucesso pelo mundo como Hagar, Asterix, W. Bush, por exemplo.

Iotti encontrou a fórmula para traduzir, em traços, a imagem de milhares de imigrantes italianos com seus personagens: ele soube sintonizar seus traços com os mais (aparentemente) singelos problemas cotidianos de uma Colônia Italiana e projetá-los para um macrossomo chamado Brasil.

Publicado nos maiores jornais do sul do Brasil, agora parte para a globalização, pois afinal não existe nenhum lugar no mundo onde não se conheça um imigrante italiano. Qualquer um de nós há de se identificar com essa história.


Sinopse:

A peça aborda um dia na vida do casal mais “gringo” das tirinhas brasileiras, com diálogos pra lá de afiados. Como nos quadrinhos, Genoveva passa boa parte do seu tempo limpando a casa e brigando com o Radicci. Ele por sua vez gasta horas evitando o trabalho e a higiene pessoal, além bebe alguns litros dos mais variados tipos de vinho. A medida que o dia vai passando, os personagens vão se soltando e protagonizam algumas cenas mais intimas, à moda colona. Em cena, o politicamente incorreto diverte a plateia.

 A Cenografia:

Os elementos cênicos foram definidos a partir do estudo e pesquisa acerca do universo retratado pelo cartunista Iotti. Em cena encontra-se disposta uma pequena sala, com cadeira, mesa e televisor. Ao centro uma cama com um abajur e na outra extremidade uma tábua de passar roupa com apetrechos de limpeza, vassoura, balde, ferros de passar roupa, panos, etc. Optou-se, por exemplo, em usar a cor marrom, como nos quadrinhos, para representar a madeira. Todos estes elementos ficam sobre uma lona encerada que delimita a atuação e confere o tom diferenciado ao piso da residência.

Ao fundo da cena painéis iluminados trocam de cores como nos quadrinhos. Cada uma utilizada conforme a situação dramática do espetáculo. Os painéis assim como nas tirinhas, assumem a cor azul durante a noite, o lilás para as situações mais cotidianas e o tom vermelho para as cenas mais fantasiosas, em alusão ao momento de intimidade dos personagens.

A iluminação do espetáculo leva ao clima do interior de uma casa colonial, com tons quentes, como o âmbar. A luz visível parte de uma lâmpada sobre o ambiente e um abajur - que delimitam as trocas do dia para a noite, da luz acesa para a luz apagada. A luz geral foi definida para valorizar os elementos e a atuação dos personagens.

  Caracterização para o teatro – Máscaras e Figurinos

As vestes dos personagens respeitam as figuras já conhecidas do público. Com apliques de seios fartos e ancas largas, Genoveva usa uma saia, uma blusa decotada e uma pantufa nos pés. Radicci por sua vez usa as calças marrons arregaçadas e a tradicional camisa grená, há no figurino uma barriga postiça com enchimento, para que o ator ganhe a forma arredondada do personagem. Ambos usam adereços na cabeça que valorizam o traço predominante dos personagens, o lenço com cabelos loiros dela, e a careca com chapéus dele. A composição de tecidos escolhida para o trabalho deixam as roupas mais volumosas e encorpadas que as roupas cotidianas, o que pode ser identificado no traço do desenho. As cores das roupas são as mais tradicionais das tirinhas, escolhidas na gama de cores próximas ao tom de uma caneta hidrocor.

A encenação é realizada com acentos, tipo de máscaras que destacam uma parte isolada do rosto, no caso de Radicci e Genoveva o acento foi para os narigões dos desenhos.


O CRIADOR


Carlos Henrique Iotti é natural da cidade de Caxias do Sul, nascido no dia 27 de Fevereiro de 1964. Aos 14 anos ele descobriu que o desenho poderia ser uma profissão como qualquer outra. A partir daí começou a batalhar o seu espaço dentro de um campo não muito valorizado na Comunicação. Iotti costuma dizer que “todos são desenhistas, mas a maioria, depois de uma certa idade, fica séria, adulta e para de desenhar. Apenas 1%, os mais loucos, continuam.”

É formado em Jornalismo pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e foi na faculdade que criou seu primeiro personagem: o guerrilheiro trapalhão Ernesto Che da Silva (era uma sátira ao movimento estudantil da época). De lá para cá foram muitos personagens de destaque como “Frederico e Fellini” – que conta a história de amor e ódio entre um menino e seu gato, “Deus e o Diabo” – uma dupla de criação de agência publicitária, “Adão Hussein” – um gaúcho típico das bandas de Vacaria, além do Radicci e sua família (Genoveva, Guilhermino, Nôno, Tia Carmela,…).

Radicci é a criação que tornou Iotti conhecido e também o que dá mais trabalho atualmente (Iotti faz tiras e charges diárias para jornais Pioneiro e Zero Hora). Também publica no Diário Catarinense, O Diário de Criciúma, O Diário do Sul (SC), O Diário do Sudoeste (PR). Há ainda os projetos de livros, produtos com a marca do Radicci, assim como a manutenção do site do personagem, do site em italiano e do seu site de pesca, outra paixão do desenhista. No ano de 2008 Iotti também foi eleito segundo suplente de senador na Itália.



A DIREÇÃO


Dilmar Messias é ator, diretor, dramaturgo, cenógrafo, iluminador e produtor cultural. Ingressou no curso de Arte Dramática da UFRGS em 1972 e, neste mesmo ano, no seu primeiro trabalho recebeu os prêmios de direção e dramaturgia. Desde então começou a produzir espetáculos teatrais para o público adulto e infantil, sendo muitos deles de sua própria autoria. Conhecido como um homem de teatro inquieto, exigente e perseverante.

Trata com o mesmo cuidado e respeito tanto as montagens para o teatro adulto como para o teatro infantil, por esta razão que ele é frequentemente convidado para dar palestras e cursos. De 1987 a 1991 dirigiu o Instituto Estadual de Artes Cênicas, órgão de Assessoria do Secretário de Estado da Cultura, cargo que voltou a assumir em 1995. Já viajou para a Alemanha e Inglaterra à convite dos respectivos governos pela importância do seu trabalho no teatro. Foi mais de uma vez convidado para trabalhar no centro do país, mas pelo apego às raízes manteve-se aqui no Sul. Estudioso de nossa cultura levou à cena várias histórias e obras de autores gaúchos, entre eles Simões Lopes Neto, Mário Quintana, Érico e Luis Fernando Veríssimo, e agora o cartunista Carlos Henrique Iotti. Em 2001, recebeu uma homenagem do Centro Brasileiro de Teatro Para a Infância e a Juventude, ao lado de outras importantes personalidades do teatro brasileiro.

Já dirigiu mais de 30 espetáculos teatrais, atuou e fez dramaturgia para outros tantos. Atualmente coordena o Circo Teatro Girassol, espaço de artes cênicas. Além de sua extensa produção teatral, Dilmar Messias, mantém permanente atividade em defesa da cultura como presidente e membro de várias direções do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Diversão (Sated/RS) e como responsável pela Mostra Gaúcha de Teatro Infantil, evento anual que organiza desde a década de 1970.


O GRUPO UEBA PRODUTOS NOTÁVEIS


O Grupo Ueba Produtos Notáveis, fundado em 2004 na cidade de Caxias do Sul – RS - pelos atores Jonas Piccoli e Aline Zilli, vêm se firmando como um dos principais grupos de Teatro do Brasil. Com 7 espetáculos em repertório, o grupo conta com 10 membros e circula o Brasil e a América Latina levando um trabalho autoral com traços marcantes de suas pesquisas e experimentando novas técnicas do fazer teatral.

Dentre as linguagens trabalhadas destaca-se principalmente a farsa, utilizada como recurso cômico nas montagens teatrais. Além da farsa, o grupo busca influências em outros estilos de interpretação à exemplo do Clown, e do jogo dramático das máscaras, bem como nas técnicas de teatro popular.

Ao longo de sua trajetória o Grupo Ueba vem realizando intercâmbios para manter suas pesquisas sobre as diferentes linguagens cênicas e assim criar espetáculos teatrais que tenham refinamento estético e conceitual, mas que atendam ao gosto popular. Pode-se dizer que este é um dos motivos do seu sucesso por onde se apresenta.


O ELENCO

Aline Zilli iniciou seu contato com as Artes Cênicas em 2004 e desenvolve seu trabalho no grupo de teatro Ueba Produtos Notáveis que fundou, juntamente com Jonas Piccoli. Em sua trajetória e pesquisa atua no teatro de palco, adulto e infantil, e principalmente no Teatro de Rua. Já atuou em 12 peças, ainda tendo destas, 7 em repertório junto ao grupo Ueba.

Tem forte atuação na produção do grupo, incluindo a participação em importantes encontros e festivais de teatro em território nacional e fora do Brasil, como o Entepola no Chile, e o Arribando el Puerto de Maracaibo na Venezuela. É também membro do colegiado setorial de teatro do Rio Grande do Sul e articuladora da rede brasileira de teatro de rua.

Jonas Piccoli é ator, diretor e dramaturgo, fundou em 2004 o grupo Ueba Produtos Notáveis, no qual se dedica até hoje. Desde o início da sua carreira já atuou em 13 espetáculos e dirigiu 8 montagens.

Ao longo destes mais de 10 anos de atuação, marcou presença em importantes encontros e festivais de teatro, como o Entepola no Chile, e o Arribando el Puerto de Maracaibo na Venezuela, Porto Alegre em Cena, Festival de Teatro de Curitiba, Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre, Festival Internacional de Londrina, Semana Luiz Antônio Correa em Araraquara, Caxias em Cena, entre outros. Integrou a comissão de  Organização do 7º Encontro de Articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua e o 1º Encontro de Articuladores do MERCOSUL.  Participação também na Organização do EEPA 2010– 1º Encontro Estadual de Palhaços do Rio Grande do Sul e do 3º Encontro da Região sul da Rede Brasileira de Teatro de Rua – 2010. Atualmente coordena o Grupo de Teatro Ueba Produtos Notáveis e o projeto Ri que Passa, de visitação hospitalar. É membro da Comissão de avaliação e seleção dos projetos do Financiarte de Caxias do Sul.